domingo, 24 de junho de 2018

Assessor de Temer tenta explorar minério raro em terra indígena

Comunidade no rio Içana, na Terra Indígena Alto Rio Negro (AM), onde ex-deputado tenta explorar minério  
Uma empresa vinculada a Elton Rohnelt (PSDB), assessor do presidente Michel Temer (MDB), vem tentando convencer comunidades indígenas a praticar mineração na remota fronteira do Brasil com a Colômbia. As investidas incluem doações de barco e outros equipamentos, pagamento por amostra de minério e promessas de cesta básica.
A Constituição prevê mineração em terras indígenas, mas só após regulamentação específica pelo Congresso, ainda inexistente, e consulta a etnias afetadas. Rohnelt, no entanto, alega que há uma brecha.
Junto com o seu sócio majoritário, o empresário paulista Otávio Lacombe, eles afirmam que o Estatuto do Índio, de 1973, permite que os indígenas façam garimpagem rudimentar (faiscação e cata).
Em reuniões que ocorrem desde 2016 em algumas comunidades da etnia baniua, Lacombe explica esse caminho jurídico, além de incentivar e assessorar a criação de cooperativas indígenas —ele traz até o estatuto já pronto.
O objetivo inicial é a extração de tantalita. A produção seria vendida à Gold Amazon, fundada nos anos 1980 por Rohnelt, ex-dono de garimpo e ex-deputado federal por Roraima. Recentemente, ele vendeu 90% da mineradora para Lacombe e colocou 10% em nome de sua filha Carolina.
Relativamente rara, a tantalita é usada na indústria eletrônica e tem demanda crescente por causa dos smartphones. O mineral tem sido alvo de contrabando —neste ano, a PF abriu dois inquéritos no Amazonas e auxiliou a PM do Amapá a apreender 1,3 tonelada do mineral.
O foco dos empresários é a bacia do rio Içana, na Terra Indígena Alto Rio Negro, habitada pela etnia baniua. A principal comunidade, Tunuí Cachoeira, está a 250 km por rio de São Gabriel da Cachoeira (AM). 
Fabiano Maisonnave – Folha de São Paulo

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