segunda-feira, 17 de julho de 2017

Como vive a Bela mulher de um milionário na cadeia

Da Folha:
Na saúde, na doença e na prisão: a rotina da mulher de Marcelo Odebrecht
BELA MEGALE
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
Na última quarta-feira (12), Isabela Odebrecht, 43, chegou pouco depois do meio-dia à sede da Polícia Federal, em Curitiba. A visita para o marido só abriria às 14h. Como tem sido rotineiro, ela foi a primeira a se apresentar.
Toda de preto, sem sapatos ou bolsa de grifes renomadas, sentou-se em uma das cadeiras vagas e desabafou para uma pessoa que a acompanhava: “Faltam mais 160 dias”, referindo-se ao tempo que resta para o marido progredir da prisão para o regime domiciliar fechado, o que ocorrerá em dezembro.
Desde que Marcelo, ex-presidente e herdeiro do grupo Odebrecht, foi preso e levado para o Paraná, há pouco mais de dois anos, Isabela segue essa mesma rotina semanalmente, enfrentando o medo de avião que adquiriu recentemente.
Nesse tempo, ganhou a confiança dos funcionários da PF e é festejada quando chega no prédio. De agentes à recepcionista, todos a chamam pelo apelido de Bela, e alguns passaram a tratá-la como uma confidente.
No Complexo-Médico Penal, presídio em que Marcelo ficou detido por meses antes de negociar delação, não foi diferente. Em pouco tempo, Bela ficou amiga das mulheres de outros presos. Em uma sexta-feira próxima ao Dia das Crianças, providenciou lanches para todas as famílias que estavam na fila de visitas. Comeu o seu no carro com as filhas e o motorista.
A amigos, costuma dizer que quando fez os votos de casamento, aos 21 anos, pensava em passar dificuldades na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, mas não na prisão.
A possibilidade de Marcelo ser preso nunca passou pela sua cabeça, nem mesmo quando donos de empreiteiras estavam indo para atrás das grades com os avanços da Operação Lava Jato.
Na manhã de 19 de junho de 2015, porém, a realidade desabou sobre a cabeça de Bela. Policiais entraram na sua casa, em São Paulo, levaram seu marido, acordaram seus pais que lá estavam hospedados e uma das filhas. As outras duas foram mandadas para a escola. A amigos diz que, desde então, a sua “prisão” também começou ali.
FORA DOS HOLOFOTES
Discreta, Bela sempre evitou aparecer e não dá entrevistas sobre a prisão de Marcelo. Quando ia a eventos com o marido, ficava atrás dele para fugir das câmeras. Assediada por colunas sociais, negava convite e evitava ao máximo contato com jornalistas. Às filhas, aconselhava: “Há duas opções: viver de maneira discreta e normal ou se expor e ter que andar rodeada por seguranças”.
Até Marcelo ser preso, ela teve sucesso na escolha, depois, foi impossível que seu nome permanecesse esquecido pela mídia.
Um dos episódios que virou notícia foi a troca de emails com o marido sobre um jantar com empresários realizado na residência do casal, em 2012.
Na conversa, que entrou no processo da Lava Jato e perdeu o sigilo, Bela foi informada da presença de um sindicalista no evento e respondeu ao marido: “Se sujar minha toalha de linho ou pedir Marmitex… vou pirar. Saudações Sindicais? Não mereço”, conforme publicou a coluna “Painel”, da Folha.
Quando relembra o episódio, diz a amigos que se tratava de marmita de verdade. Relata que personalizou marmitex para que os convidados levassem cocada que foi servida como lembrança. Conta que um dos presentes gostava muito da sobremesa e por isso costumava lhe dar um pedaço para viagem.
A imagem de arrogante que ganhou com a história é uma das mágoas que carrega privadamente. Nascida em uma família de classe média de Salvador, formou-se em pedagogia e trabalhou cerca de quatro anos como professora até se casar com o herdeiro da Odebrecht, seu namorado desde os 15 anos.
Extrovertida, na época tinha que ouvir dos amigos que sairiam com o casal por causa dela, já que o namorado não esbanjava simpatia.
Após a união, largou o trabalho e se dedicou a cuidar da casa e à criação das três filhas. Mãe presente, faz questão de levar as meninas na escola e só dorme quando sabe que elas estão na cama.
A prisão do marido não foi justificativa para mudanças. Exige boas notas e não dá espaço para desculpas: “quem está preso é seu pai”.
Diz a amigos que só aguentou o tranco dos últimos anos devido ao apoio das filhas. “Foram elas quem me seguraram”, costuma dizer, segundo relato de amigos.
Conta a pessoas próximas que, após a detenção do marido, aprendeu a lidar “com o que tem para hoje” e que esse se tornou um dos lemas para tocar o dia a dia.
VÍTIMA
Também passou a ler processos, delações premiadas e a assistir a audiências e depoimentos na internet que envolviam o marido e a empresa.
Quando é questionada sobre os crimes que ele cometeu, deixa claro que enxerga culpas, mas também o vê como vítima.
“Ele cometeu erros, mas para ter realizado todos esses crimes teria que ter começado a trabalhar na empresa com oito anos”, respondeu a um amigo que a questionou como seu pai deixara ela se casar com Marcelo.
Quando ouve críticas em relação ao marido, reforça que é o melhor pai que poderia ter encontrado para as filhas, lembra dos votos de casamento e diz que repetiria tudo, mesmo sabendo que a prisão colocaria o casal a prova.

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