sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Pesquisa mostra que seca não é o principal fator de emigração do NE

Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Demografia da UFRN traça um novo olhar sobre a dinâmica demográfica no semiárido nordestino. Uma das conclusões do estudo é que a seca, que é comumente citada como a principal causa para emigração, não é de fato o principal motivo que leva a população a deixar a região, mas sim uma junção de fatores econômicos e a falta de políticas sociais.
Os estudos desenvolvidos pelo professor e pesquisador Ricardo Ojima nos últimos anos, com ênfase na região do semiárido norte, afirma que as políticas sociais, sobretudo as de transferência de renda, como o Bolsa Família e a aposentadoria, são os fatores mais relevantes para fixar a população em determinada região ou ainda para o retorno desta para as cidades de origem.
A pesquisa indica também que, com o advento do benefício de aposentadoria ou pensão, há também um maior envolvimento de aposentados e pensionistas na chamada migração de retorno, pois este grupo conquistaria uma independência financeira aliada à desobrigação laboral e poderia enfim decidir por retornar ou não a sua cidade de origem.
O Rio Grande do Norte, por exemplo, tem cerca de 30% de seus imigrantes como retornados, de acordo com uma análise dos dados sobre migração do Censo Demográfico 2010, que utilizou um modelo de regressão logística para avaliar, entre outros dados, o impacto da seguridade social no retorno migratório.
A análise dos resultados das pesquisas desenvolvidas no Departamento também desmistifica outra afirmação, insistentemente repetida, de que os programas de transferência de renda poderiam impactar no aumento do número de nascimentos na região. Na realidade, o semiárido norte foi o que apresentou maiores quedas no número médio de filhos por mulher nos últimos anos.
A quebra de paradigma é importante por derrubar alguns mitos sobre a região. “Um dos pontos do nosso projeto é tentar desconstruir e entender com mais detalhes a dinâmica da população nordestina, particularmente, sobre a migração e a mobilidade, pois a problemática ambiental urbana costuma dar atenção aos centros metropolitanos, deixando às regiões de emigração tradicionais no Brasil o estigma de áreas rurais estagnadas”, afirma Ojima.
O pesquisador também explica que a transição urbana no país já é generalizada e que tais regiões se consolidando como urbanas exercem um papel decisivo na retenção da população. Do ponto de vista da sustentabilidade, o crescimento urbano não deve ser visto como uma questão negativa em si mesma, pois as transições urbanas refletem resultados distintos em contextos e momentos distintos.
Em setembro, Ricardo Ojima vai apresentar os resultados da pesquisa no II Congresso da Associação de Brasilianistas na Europa (ABRE), que acontece em Paris entre os dias 18 e 21. Além disso, o docente ainda participa de reuniões de projetos que vêm sendo desenvolvidos com o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD/França) para estudos sobre a dinâmica demográfica na região do semiárido nordestino.

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